25/08/2025 19:24:00 - Atualizado em 25/08/2025 19:25:00

O que é a superdotação? Desmistificando os tipos de desempenho e a importância da rede de apoio

Laís Souza Gomes com supervisão de Nathalia Ferreira/ Redação Rede TV!

As altas habilidades não são sinônimo de genialidade; entenda como essa condição funciona 

(Foto: Freepik)

A superdotação, comumente associada a um “alto grau de inteligência”, é uma condição genética que afeta 5 mil pessoas no Brasil, segundo levantamento da Associação Mensa Brasil

A associação dessa condição apenas a algo que reflete no desempenho acadêmico é um mito, já que as pessoas podem ter diferentes tipos de super dotes. Diante dos equívocos e estigmas em torno do assunto, o Portal da RedeTV! entrevistou a psicopedagoga e diretora de inclusão da Camino School Marina Tiso e Roberta de Castro, mãe do superdotado Filippo de Castro, de 8 anos, jornalista e fundadora da ONG Crescer Feliz.

Ser uma pessoa superdotada quer dizer que um indivíduo “apresenta habilidades ou potencial significativamente acima da média em uma ou mais áreas, como intelectual, acadêmica, criativa, artística ou psicomotora”, segundo a Marina Tiso. A especialista explicou que: “Segundo o MEC e autores como Miraca Gross, não se trata apenas de ‘saber mais’, mas sim de possuir um potencial diferenciado que, quando estimulado, pode levar a realizações excepcionais”.

A mente daqueles que possuem a superdotação são diferentes de alguém que é apenas “super inteligente” e apresenta resultados elevados em testes ou na escola. “Pessoas superdotadas processam informações de forma mais rápida, fazem conexões incomuns e têm maior flexibilidade cognitiva. Elas transformam o conhecimento em ideias originais ou em aprofundamento em temas de grande interesse. A diferença está na intensidade e complexidade do pensamento, não apenas na quantidade de informações”, diz a psicopedagoga. 

Tipos de superdotação e o diagnóstico 

Cada indivíduo pode apresentar características e interesses variados, dependendo de como a condição o afeta. A superdotação pode ser classificada por diferentes categorias:

Intelectual: capacidade de raciocínio lógico, rapidez de aprendizado, facilidade para resolver problemas complexos;

Criativa: grande imaginação, originalidade e pensamento divergente;

Acadêmica: desempenho excepcional em áreas escolares específicas;

Artística: habilidades em música, artes visuais ou expressões artísticas;

Psicomotora: coordenação física acima da média, destreza em movimentos.

Perante a diversidade de alta performance em habilidades, a diretora da Camino School explica que, nas crianças, os “primeiros sinais podem incluir curiosidade intensa desde cedo, questionamentos profundos, atenção prolongada em temas de interesse, memória avançada, leitura precoce ou linguagem sofisticada para a idade”.

Essas demonstrações foram exatamente o que Roberta de Castro observou no filho, Filippo. “Eu comecei a perceber a questão da concentração dele muito exacerbada. Ele estava fazendo alguma brincadeirinha, a gente chamava, mas ele não atendia”, iniciou. “Depois aprendeu a mandar a gente esperar, o que eu achei um absurdo uma criança com dois anos virar e falar assim ‘espera’. Eu falei, gente, isso já não é comum”, contou a mãe.

A jornalista também relatou momentos em que o garoto, ainda aos dois anos, memorizou o local onde fazia natação e até placas de carro, mesmo sem nunca ter sido ensinado a ler, até aquele momento. “Ele memorizava isso de uma maneira muito rápida e muito incrível. Então, assim, a memória dele era algo muito bizarro, real. […] essa questão geográfica, esse mapa que vive no cérebro, é muito dessa concentração que eles têm exacerbada”, relatou.

A sensibilidade a barulhos altos também afetava o menino com frequência. “Eu achei que ele era autista, porque ele tinha muito problema com o som. […] Quando tinha barulho de liquidificador, batedeira, ele botava sempre a mãozinha no ouvido. Quando levei ele no médico ele mandou fazer o exame de audiometria, mas não deu em nada”.

Com isso, a dona da ONG decidiu procurar ajuda de profissionais para entender melhor o que fazia o filho ter esses comportamentos: “Levei na neuro, aí foi quando ela falou: ‘ele provavelmente não é autista’. Ela fez os testes rápidos, mas encaminhou o Pippo para uma neuropsicopedagoga para poder fazer os testes específicos da área […] Foi aí que a gente descobriu que ele era superdotado”. 

“Alguns superdotados passam anos sem reconhecimento formal, especialmente se seu talento não se manifestou na escola ou se houve falta de estímulo adequado”, pontua Marina. 

O diagnóstico da condição é útil para orientar estratégias pedagógicas e de desenvolvimento pessoal para os superdotados.“Nas escolas, o laudo é importante para a montagem de programas adequados, compatíveis com o potencial de cada criança. Além disso, ele formaliza o reconhecimento do direito à educação diferenciada, ao Plano Educacional Individualizado (PEI) e possibilita, também, acompanhamento especializado quando necessário”, esclareceu Marina Tesa.

“Alguns superdotados passam anos sem reconhecimento formal, especialmente se seu talento não se manifestou na escola ou se houve falta de estímulo adequado”, complementou. 

A diretora destaca também que é essencial que esses pacientes recebam os estímulos adequados  para motivá-los, com um cuidado para não comprometer aspectos sociais e emocionais: “A falta de desafios, o isolamento social ou a incompreensão do entorno podem gerar ansiedade, frustração, baixa autoestima ou até depressão. Um acompanhamento psicológico ajuda na regulação emocional e no desenvolvimento saudável do potencial.”

Para Roberta de Castro, o diagnóstico do filho foi um passo importante para conseguir entendê-lo melhor, mas ao mesmo tempo foi uma informação difícil de entender pela falta de recursos. “Eu saí chorando aos prantos da clínica, o Filippo não estava entendendo nada, […] eu falei, o que eu vou fazer com esse laudo na mão? Para onde eu vou?” relembrou a jornalista. “Eu não estou desmerecendo nunca, jamais. Na condição de TEA, o suporte está muito avançado, então há informação, minimamente as pessoas sabem o que é o transtorno do espectro autista, no caso da superdotação, nem eu sabia, e eu falei, por onde eu começo?”, contou.

Rede de apoio e a ONG Crescer Feliz

Apesar de todas as dúvidas e questões, a mãe de Pippo encontrou naquele momento desafiador uma nova inspiração, a criação de sua própria ONG dedicada para pessoas superdotadas: a Crescer Feliz. 

“Foi onde começou minha saga. Tive muito apoio da neuropsicopedagoga, Mari, que até hoje está comigo e é co-fundadora da Crescer Feliz. […] Ela mandou artigos, materiais… Conforme eu fui aprendendo, me determinei a não deixar outras mães passarem pelo que eu passei, eu queria criar uma comunidade”, disse a fundadora.

A instituição funciona como um espaço livre para todas as crianças superdotadas que participam compartilharem interesses e serem elas mesmas. “Eu nunca, jamais, permiti que falasse a palavra genialidade, ou explorasse o meu filho, ou qualquer criança da Crescer Feliz, sobre gênios, tá? Eu queria que as mães tivessem minimamente esse apoio, porque sei o que elas passam”, ressaltou Roberta. 

Ela ainda revelou que, atualmente, a comunidade de mãe de superdotados criada por ela nas redes sociais já acumula mais de 8 mil pessoas no WhatsApp e 13 mil seguidores no Instagram, além de contar com vários parceiros na realização de eventos sobre a superdotação. “A Crescer Feliz é um propósito na minha vida. É lindo de ver essa grande comunidade”, concluiu.

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